Por vespa
Esta semana
está acontecendo em todo o país ações pelo fim da utilização de animais em
testes científicos, o que além de cruel e antiético, é algo de extrema
ineficácia. Estas ações culminarão na II Manifestação Nacional Anti-Vivissecção
e Experimentação Animal, que acontecerá em 50 cidades do Brasil no dia 28 deste
mês (próximo sábado). Campina Grande é uma destas cidades.
Os testes em
animais são realizados por empresas farmacológicas, de cosméticos e na área de
saúde em geral. Universidades também costumam realizar esta prática (apesar de
a tendência em grande parte da Europa e nos Estados Unidos ser de abolição
destes métodos desnecessários e ultrapassados serem abolidos). Os testes podem
consistir de aplicação de substâncias químicas ou de condicionamentos ou a
chamada vivissecção. Vivissecção consiste em utilizar animais vivos abrindo
suas peles, seus organismos, dissecando-os, implantando aparelhos, com o
propósito de realizar estudos anátomo-fisiológico. Em latim vivus significa “vivo” e sectio, “corte”, ou seja, cortar
(dissecar) um ser com vida.
As
atividades por aqui se iniciaram hoje com exposição, distribuição de materiais
e trocas de ideias no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade
Estadual da Paraíba. No local funcionam os cursos de Farmácia, Fisioterapia,
Odontologia, Psicologia e Enfermagem e todos realizam testes em animais. Houve
debate com alunos pela manhã e início da tarde.
Para quem
desejar entender o motivo da oposição a estes métodos, as alternativas para não
se realizar estes experimentos e para quem desejar se informar sobre o assunto,
segue a programação completa de Campina Grande e um texto do biólogo e ativista
Sérgio Greif.
II Manifestação Nacional Anti
Vivissecção e Experimentação Animal
Campina Grande, PB – 2012
25/04 -
Mobilização no CCBS da UEPB (pela manhã - a partir das 09h)
27/04 - Mobilização na Praça da Bandeira (manhã e tarde - das 09h às 17h)
28/04 - Evento no auditório de administração da uepb, com exibição de filme e
debate (às 15h)
28/04 - Gig punk anti vivissecção no vitrola bar (às 21h)
Exposição, distribuição e venda de material acerca de especismo e
experimentação científica
Realização: AILA (Ações Independentes de Libertação Animal)
Apoio: Fórum Municipal de Bem-estar Animal (Campina Grande) e PAV (Proteção
Animal e Vegetarianismo)
Manifesto
contra a Vivissecção
Sergio
Greif
Vivissecção
é a prática cruenta de utilização de animais vivos com propósitos
experimentais. Animais como camundongos, ratos, porquinhos-da-índia, hamsters,
coelhos, sapos, aves, cães, gatos, macacos e animais de fazenda são submetidos
a diferentes procedimentos destrutivos, tanto fisicamente quando
psicologicamente. São exemplos destes procedimentos: realização de cortes e
amputações, muitas vezes sem anestesia; ingestão, inalação ou injeção forçada
de substâncias tóxicas; privação de água e alimentos ou de convívio social;
condicionamento a determinadas reações mediante eletrochoques ou queimaduras;
extração de materiais biológicos, etc.
A alegação mais comum para defender estas práticas é a de que seres humanos e
animais domésticos são diretamente beneficiados por tais ações. Defende-se que,
sem as pesquisas em animais, na atualidade o ser humano não disporia de
vacinas, técnicas de transplantes, anestesias, nem das drogas que pretensamente
tratam as diferentes doenças. As conseqüências disto seriam um declínio em nossa
qualidade de vida, além de diminuição em nossa longevidade. Estas alegações
são, no entanto, enganosas. Ocorre que, embora exaustivamente testados e
aprovados em animais, todos os tratamentos acima enumerados se mostraram
falhos, em sua fase de testes, em produzir efeitos promissores em seres
humanos. Muitos deles, apesar da segurança comprovada em animais, produziram
efeitos colaterais, e muitas vezes morte, em seres humanos.
Os experimentos prévios, realizados em animais, teriam a pretensa função de
impedir que os primeiros seres humanos submetidos a determinado tratamento se
tornassem “cobaias” da ciência. O que de fato ocorre, no entanto, é que
experimentos em animais simplesmente são conduzidos para amenizar as
responsabilidades de laboratórios que lançam no mercado drogas que mais tarde
poderão vir a prejudicar seres humanos. É grande o número de drogas aprovadas
pela FDA (o órgão responsável por permitir a comercialização de drogas e
alimentos nos EUA) que são recolhidas das prateleiras no prazo de um ano após
sua colocação no mercado. O motivo deste recolhimento é a detecção de efeitos
colaterais na população humana, efeitos estes que não haviam sido detectados em
testes em animais. Da mesma forma, embora a tecnologia de transplantes tenha
sido toda desenvolvida com base na experimentação animal, os primeiros seres
humanos submetidos a estas técnicas padeceram. Foi com base nessas experiências
de transplante em seres humanos que deram errado, e não os estudos em animais,
que se desenvolveram as técnicas de transplante de que dispomos hoje. Pode-se,
então, deduzir que “cobaias” verdadeiras são seres humanos, sendo os animais
meros adjuvantes de nossa crueldade.
Com efeito, parece curioso que poucas pessoas se questionem se realmente somos
assim tão “dependentes” de todos estes tratamentos e supostos benefícios
oferecidos pela medicina moderna. A indústria farmacêutica obtém seus lucros da
venda de remédios, e por isso necessita convencer o cliente de que seus
produtos são vitais para sua qualidade de vida. Trata-se de um negócio dos mais
lucrativos, e como todo bom negócio, esta indústria se organiza em lobbies.
Estes lobbies não limitam sua atuação apenas aos consultórios médicos, eles
influenciam as políticas de virtualmente todos os governos, a educação formal
e, por conseguinte, a forma como a população vê seus produtos.
Esforços são continuamente feitos para convencer a população de que o aumento
em nossa expectativa de vida tem relação direta com a enorme disponibilidade de
drogas e tratamentos de que dispomos atualmente. Curioso que fatores tais como
melhores condições de moradia, de higiene, abastecimento de água limpa,
saneamento, segurança alimentar, etc, fatores estes que também passaram a
preponderar nas últimas décadas, são frequentemente negligenciados nesses
informes em relação à nossa melhor qualidade e maior expectativa de vida.
Por outro
lado, a compreensão de que dados obtidos experimentalmente de animais não podem
ser extrapolados para seres humanos é simples: Ainda que partilhemos muitas
características fisiológicas e metabólicas com os demais animais, é através das
diferenças que as individualidades se manifestam. Desta forma, o organismo do
ser humano não pode ser visualizado como o organismo do rato 200 vezes mais
pesado; a dose letal de uma determinada substância para o rato não poderia ser
determinada para o ser humano simplesmente multiplicando seu valor por
duzentos. Ratos podem ser imunes a grandes quantidades de determinadas
substâncias as quais com poucas gramas poderia se levar um ser humano saudável
ao óbito. Drogas que produzem determinados efeitos em determinados animais
podem produzir efeitos completamente diferentes em animais de outras espécies.
Nem mesmo animais cujo metabolismo aparentemente se assemelha mais ao de seres
humanos, como macacos e porcos, são bons modelos de experimentação, porque no
que se refere a este assunto, não existe qualquer linearidade que confira
cientificidade à extrapolação.
Mesmo entre seres humanos a extrapolação e generalização de dados mostra-se uma
atividade perigosa, devido às variações genéticas que ocorrem dentro das
próprias populações humanas. Drogas que se mostram efetivas para uma
determinada parcela da população podem não ter qualquer efeito, ou no pior dos
casos pode significar efeitos adversos, em outra parcela da população. Com
efeito, admite-se que as drogas presentes no mercado são efetivas apenas para
30-50% da população. Daí concluir-se que mesmo o ser humano não representa
modelo adequado para a pesquisa de medicamentos para a espécie humana.
Outrossim, há que se criar drogas específicas com base na ciência genômica.
Por este motivo afirmamos a completa inutilidade científica da experimentação
animal, como também nos preocupa que esta seja a base na qual apoiamos nossa
ciência. Esta metodologia conduz ao erro, ao atraso, a dados errôneos, á
má-interpretação, à incoerência, ao desperdício de vidas, humanas e animais.
Desta forma, propomos a abolição da vivissecção em todos os seus níveis, bem
como sua substituição por uma ciência mais humanitária e que se baseie em
métodos que não utilizem animais, denominados métodos substitutivos.